August 26, 2020

David

 

 

O David é parte da minha família tuga em Oslo. Vive cá há cerca de 6 anos e é treinador de futebol no Vålerenga Fotball Elite. É das pessoas com mais capacidade de trabalho que já conheci. Ele não se acomoda, ele está sempre a tentar melhorar e merece colher todos os frutos que a dedicação dele lhe trouxer. Para além disso é um cozinheiro de mão cheia e o maior responsável de sairmos de casa dele a rebolar. Tem uma mulher e uma filha lindas (e dos melhores achados que fiz na Noruega) e está a dias de ser pai novamente. Este é o David.

 

Foi uma escolha tua ou calhou vires para a Noruega?

Foi um misto das duas, para ser sincero. A minha esposa já cá estava antes de eu vir, entretanto vim cá de ferias, estabeleci uns contactos e mais tarde acabei por vir para abraçar o projeto onde estou hoje, por isso posso dizer que uma coisa levou a outra.

 

Quais as principais diferenças que encontras entre trabalhar em futebol em Portugal e na Noruega?

Penso que em Portugal leva-se mais a sério o futebol. Está mais culturalizado que aqui. A mentalidade também é um pouco diferente.

 

Do que gostas mais nos noruegueses cultura norueguesa?

Da forma de ver e encarar a vida... Da forma como eles gerem as prioridades e o tempo que têm no dia-a-dia, não têm o frenesim de vida como nos temos em Portugal.

 

E o que é que te tira do sério?

Falta de ambição. Sinto que por vezes é um povo confortado com aquilo que tem. Falta de competitividade. Numa fase inicial é um povo difícil de socializar e muito reservado na sua vida, mas aos poucos as coisas ficam melhores.

 

Quais são as principais diferenças entre ser pai e criar uma filha em Portugal e na Noruega?

O tempo que temos para estar presente na vida dela que provavelmente não teríamos se estivéssemos em Portugal; a liberdade e a forma de crescer que as crianças ainda podem ter mesmo vivendo na capital, coisa que em Portugal já não e tao fácil.

 

Do que tens mais saudades em Portugal?

Ui... Família, poder estar presente e não ver tudo a acontecer apenas pelo telemóvel; Amigos; comida, o cheiro de praia, tenho saudades de apenas poder estar lá sem o stress de ter que fazer as malas para voltar.

 

Imaginas-te a viver aqui muito mais tempo?

Sinceramente penso bastante nessa pergunta e não é fácil responder. De uma forma ponderada e responsável digo-te que sim, principalmente devido à estabilidade que o país nos proporciona e à forma como o resto da minha família esta integrada aqui. Impulsivamente digo-te que não...

 

Pois, David, eu espero que nem tu nem a tua família se vão embora daqui. Pelo menos antes de mim! 
 
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David is part of my Portuguese family in Oslo. He has lived here for about 6 years and is a football coach at Vålerenga Fotball Elite. He’s one of the most hard-working people I have ever met. He’s never satisfied (in a good way), always trying to improve his way of working and deserves all the benefits coming out of his dedication. In addition, he’s a great chef and the main responsible for us to roll on the way back home from a dinner cooked by him. He has a beautiful wife and daughter (one of my best founds in Norway) and he’ll become a father again in a few days. This is David.

 

Was it your choice or did it just happen that you end up in Norway?

It was a mix of both, to be honest. My wife was here before I came, then I came on vacation, established some contacts and later I ended up coming for good in order to embrace the project I am in today.

 

What are the main differences you find between working in football in Portugal and Norway?

I think that football is taken more seriously in Portugal. It's more a cultural thing than in here. The mindset is also a little bit different.

 

What do you like most about Norwegians and the Norwegian style?

The way they see and face life... The way they manage their priorities and their time in everyday life, they don’t have this crazy and busy lives as we normally have in Portugal.

 

And what pisses you off?

The lack of ambition. I feel that sometimes people are just ok with what they have. Lack of competitiveness. Also, when you meet them at first, people are difficult to socialize with and very reserved regarding their personal life, but things get slowly better.

 

What are the main differences between being a father and raising a daughter in Portugal and in Norway?

The time we have to be present in her life, time that we probably wouldn't have if we were in Portugal; the freedom that children can still have even living in the capital, something that is not so easy in Portugal anymore.

 

What do you miss the most in Portugal?

Ufff... My family. To be able to be present and not just see everything happening through a cellphone. Friends; food, the smell of the beach; I miss being able to just be there without stressing because I have to pack to go back.

 

Can you imagine living here much longer?

I honestly think about that a lot and it’s not easy to answer that question. In a thoughtful and responsible way I would say “yes”, mainly due to the stability that the country gives us and the way the rest of my family is integrated here. Impulsively I would tell you “no”...

 

Well, David, I hope that neither you nor your family leave soon. At least before me!

 

October 8, 2019

Sabiam que . . . | Did you know . . . #10


...há uma coisa que se chama "matpakke". "Há o quê??" Há uma coisa chamada matpakke. A dita lancheira. Mas eu agora sou emigrante e já não sei dizer lancheira. Só matpakke.

O matpakke é o almoço de, vá, 80% dos noruegueses (é pá, não sei, estou a inventar, mas são muitos). Porque esta gente não almoça comidinha boa. Quentinha. Restos do jantar de ontem aquecido no microondas do trabalho. Não. O matpakke consiste em fatias de pão com cenas por cima. Não é pão com manteiga, à tuga. É pão com cenas – fiambre chique, queijo com pimento, abacate, patê de fígado... mais uma frutinha.

Mas nunca lhe chamem sanduíche! Porque as cenas não estão no meio de duas fatias de pão. Não. Esse conceito ainda não chegou aqui. É uma fatia de pão, são cenas por cima, é um quadradinho de papel vegetal por cima para não colar ao resto, é outra fatia de pão, e assim sucessivamente até não apetecer mais pão.

Eu cá continuo a comer o meu almocinho quentinho. Pão com cenas é a minha cena, mas ao pequeno almoço. E às vezes com manteiga. Sorry, Norwegians!


(Isto é na verdade um matpakke para um bebé de 15 meses. Mas serve como matpakke representativo por agora. E obrigada à Tupperware por patrocinar a parte do pakke.)

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…there is something called “matpakke”. "There is what??" There is something called matpakke. The so-called lunch box. But I'm an emigrant and I can't say lunchbox anymore. Only matpakke.

The matpakke is the lunch of, let’s say, 80% of all Norwegians (ok, I have no idea, I'm making it up, but they are many for sure). These people don't eat good and warm food for lunch. Not leftovers from yesterday's dinner heated in the microwave at work either. No, no. The matpakke consists of slices of bread with stuff on top. It's not bread with butter, like we always eat in Portugal. It's bread with stuff – fancy ham, cheese with pepper, avocado, liver pate... and a little bit of fruit.

But do never dare to call it a sandwich! Because all the stuff are not in between two slices of bread. No. This concept has not yet arrived here. It's a slice of bread, it's stuff on top, it's a little squared piece of special paper on top so it doesn't stick to the rest, it's another slice of bread, and so on and so on until you have enough of bread.

I still have warm lunch almost everyday, though. Bread with stuff is my thing, but only for breakfast. Sometimes with butter, yup. Sorry, Norwegians!


(This is actually a matpakke for afternoon snacks of a 15-month old baby. It works as a representative matpakke for now. And thank you, Tupperware, for sponsoring the pakke part.)

May 18, 2019

Receitas | Recipes #6 - Kransekake




E já que estamos na ressaca do 17 de maio e patriotismo, um bolinho que mostra bem como os Noruegueses honram a sua bandeira. Diferente e especial. Cheio de berloques. Difícil de acertar, mas que fica lindo de ver, lá isso fica. Festa que é festa tem um kransekake. Coisa light, vejam lá:


Ingredientes:
500 g amêndoas
claras de 4 ovos
500 g de açúcar em pó

Para a calda de enfeitar:
clara de meio ovo
75 g de açúcar em pó
meia colher de chá de sumo de limão

Preparação:
1. Pelar metade das amêndoas e deixá-las secar durante um dia.
2. Picar as amêndoas.
3. Adicionar o açúcar em pó e misturar com as claras. Manter a massa no frio, de preferência até ao dia seguinte.
4. Aquecer o forno a 200⁰C.
5. Moldar pequenas “salsishas” a partir da massa com as mãos e colocar em formas para o kransekake ou formar anéis de tamanhos diferentes e consecutivos.
6. Levar ao forno por 10 minutos. Deixar arrefecer.
7. Colocar a calda para enfeitar numa manga de pasteleiro e decorar os anéis. Colocar uns aneis em cima dos outros e decorar com bandeirinhas norueguesas. Caso contrário não é um kransekake.

O estômago da Bacalhau agradece! As ancas é que não.

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As a “hangover” of the 17th of May and the Norwegian patriotism, here is a cake that shows how proudly Norwegians honor their flag. A different and special cake. Full of decorations. Hard to make, but beautiful to see. Where there is a party, there is a kransekake. A very light thing, as you can see:

Ingredients:
500 g almonds
egg whites from 4 eggs
500 g powdered sugar

Syrup for decoration:
egg white from half egg
75 g powdered sugar
half a teaspoon of lemon juice

Preparation:
1. Peel half of the quantity of the almonds and let them dry for a day.
2. Chop the almonds very thin.
3. Add the powdered sugar and mix with the egg whites. Keep the dough in the cold, preferably until the next day.
4. Heat the oven to 200⁰C.
5. Shape small "sausages" from the dough with the hands and place them in kransekake forms or form rings of different and consecutive sizes.
6. Bake for 10 minutes. Let it cool down.
7. Add the syrup to a pastry sleeve and decorate the rings.
8. Place the rings on top of each other and decorate with Norwegian flags. Otherwise it is not a kransekake.

The stomach of Bacalhau says thanks! Not the hips.

March 19, 2019

This is Norwegian style #19



Tricô no sofá de casa. Tricô no autocarro. Tricô no meio de uma reunião (sim, eu já vi).

Ele é luvas. Ele é casaquinho. Ele é meias. Ele é cachecóis.

Meninas de 20. Meninas de 40. Meninas de 60.

Toooodas adeptas do tricô. E do bem feito. Impraaassionante!!

Até um homem eu já vi a tricotar no autocarro. Um cachecol. Vermelho vivo. Ao menos tinha escolhido melhor coisinha.

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Knitting while sitting on the sofa at home. Knitting in the bus. Knitting in a work meeting (yes, I've seen it).

Gloves. Cardigans. Socks. Scarves. Whatever is needed.

20 years old girls. 40 years old ladies. 60 years old girls ladies. All ages allowed.

All of them knitting-skilled. Impressive!

I’ve even seen a man knitting in the bus. A scarf. A blood red scarf. At least he could have chosen better.

March 3, 2019

Como sobreviver ao Inverno e à escuridão | How to survive the Winter and the darkness

Agora que o sentimento é “o Inverno está a chegar ao fim” (mas nunca fiando, nunca fiando…), vamos lá falar de escuridão.

A pergunta óbvia quando digo que vivo na Noruega: “como é que sobrevives àquela escuridão?”. Simples. Da mesma maneira que todos os noruegueses, que remédio.


Para mim, “a escuridão” não é o pior. É mesmo a falta de dias “balanceados” como temos em Portugal. Saber quando está na hora de acordar. Saber quando está na hora de ir para a cama.

Por isso eu confesso, os dias de verão em Oslo, em que os céu ainda está claro por volta da meia noite e às 5 da manhã já é dia por inteiro, também me custam um bocadinho. Fico ali indecisa se é tempo de ir dormir ou ficar a jogar à macaca na rua mais um bocadinho. E no Inverno fico a olhar os dias da janela do sítio onde trabalho, porque a luz lá fora só acontece enquanto eu lá estou. Se é fim de semana e calha ficar na ronha até mais tarde… já quase se foi o dia!

Mas as regras para se sobreviver à escuridão são:

– Tomar óleo de peixe, do qual já falei AQUI (mas eu recuso-me, blhéc);
– Aproveitar cada raio de sol, e sempre que ele vem;
– Andar ao ar livre SEMPRE que possível. Se está frio, é “só” vestir mais roupa (em teoria, vá… já falei disso AQUI). Não é bom ficar em casa no ar de morrinha com janelas fechadas e radiadores a trabalhar 24/24. O ar fresco, ainda que gelado, faz bem;
– Aproveitar a época de Natal. É tão, tão bonita lá fora! O pior é mesmo Janeiro…

Não imagino como se vive acima desta latitude – nem quero experienciar, obrigadinha! Isto já é (mais do que) suficiente!

Mais posts sobre o Inverno Norueguês AQUI.

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Now that the feeling is “the winter is about to end” (well, let’s see…), let’s talk about darkness.

Obvious question when I tell I live in Norway: "How do you survive the darkness?". Easy. Just like all Norwegians do. No choice.

For me "the darkness" is not the worst. It's more the lack of "balanced" days like we have in Portugal. Knowing when it's time to wake up. Knowing when it's time to go to bed.

That's why summer days in Oslo, when the sky is still clear around midnight and totally day light at 5 am, are also hard for me. At some point, I don’t know if it’s time to sleep or if I should stay out and play a bit longer. In the winter, I look through the window from the place I work in, because the day light only happens while I'm there. If it's weekend and I sleep until late... the day is almost gone!

So the rules for surviving the darkness are, I would say:

– Take fish oil, of which I have already written HERE (but I refuse to take it, ugh);
– Enjoy every single ray of sunshine, and whenever it comes;
Go outdoors whenever possible. If it's cold, we "just" need to wear more clothes (in theory,... I've already commented on that HERE). It is not good to stay at home in the dry air, closed windows and radiators working 24/24. Fresh air, although cold, is great;
Enjoy the Christmas season. It's so, so beautiful out there! The worst part is January...

I cannot imagine living above this latitude – nor do I want to experience it, thanks! This is already (more than) enough!

More posts about the Norwegian winter HERE.